Surgimento da SADCC
Segundo Murapa (2002, p. 157), o período de transição da década de 1960 para a de 1970 foi marcado por maciça revolta política no continente africano. Foi o tempo da descolonização e independência, e esse movimento ocorreu com rapidez na África. No entanto, na África do Sul, onde a presença do colonizador era considerável, houve resistência à descolonização. Em consequência da resistência do colonizador, a luta pela independência assumiu uma estratégia totalmente diferente, das negociações políticas ao confronto militar, de países como a Rodésia (Zimbabwe), África Oriental Portuguesa (Moçambique), África Ocidental Portuguesa (Angola), África do Sul e Namíbia.
Consequentemente, a Organização da Unidade Africana (OUA) decidiu estabelecer um Comité de Libertação, sediado em Dar Es Salaam e liderado pela Tanzânia. No cumprimento de suas responsabilidades, a Tanzânia reuniu Estados, que se tornaram conhecidos como Estados da Linha de Frente (países vizinhos aos locais onde havia resistência). Que assumiram a responsabilidade de mobilizar apoio internacional para movimentos de libertação como Frelimo (Moçambique), Zapu e Zanu (Zimbabwe), MPLA (Angola), Swapo (Namíbia), ANC e PAC, na África do Sul. Com a independência de Moçambique, Angola e Zimbabwe, a liderança dos Estados da Linha de Frente sentiu a necessidade de tratar de questões económicas na região. O presidente da Tanzânia, Julius Nyerere, convocou uma reunião consultiva em Arusha, Tanzânia, em 1979, para discutir a ideia de uma aliança económica entre o crescente número de Estados da Linha de Frente, visando coordenar e harmonizar suas políticas económicas. A reunião contou com a participação dos Estados da Linha de Frente, bem como dos líderes dos movimentos de libertação de países que ainda não tinham alcançado um governo de maioria.
 Após uma extensiva deliberação sobre a visão do presidente Nyerere, resolveu-se explorar a possibilidade de criar alguma forma de mecanismo regional que examinasse, monitorasse e coordenasse questões de desenvolvimento económico nos países independentes da África Austral. Esse mecanismo veio a se tornar a Conferência de Coordenação para o Desenvolvimento da África Austral (SADCC) (Idem).

Na óptica de Mazrui (2011, p. 887), a primeira e a Southern  African  Development Coordination Conference (Conferencia para  a Coordenação do Desenvolvimento na África Austral, SADCC) cuja consagração oficial ocorreu em Abril de 1980, através da Declaração de Lusaka, tocante a liberação económica acordada pelos cinco países da linha de frente: Angola, Botsuana, Moçambique, Tanzânia e Zâmbia aos quais se reuniram Lesoto, Malawi, Suazilândia e o Zimbabué. A SADCC, fora concebida originalmente na qualidade de braço económico do grupo dos Estados da linha de frente. Sustentando a mesma ideia Viera e Ohlson (2002), avançam que:
Durante o período unilateral na Rodésia, foram estabelecidos acordos de cooperação bilateral entre os países independentes da África Austral, formando a Linha da Frente com objectivo de coordenar esforços para apoiarem as independências políticas do Zimbabwe e Namíbia. Em Maio de 1979, os Ministros dos negócios estrangeiros dos países da linha da frente reuniram-se em Gaberone, para discutir a cooperação económica. Eles acordaram em convocar uma conferência de doadores em Arusha, com governos e instituições internacionais financiadoras do desenvolvimento, a fim de discutirem um programa regional de desenvolvimento económico na África Austral. Foi neste contesto que a 1 de Abril de 1980, em Lusaka, Zâmbia, líderes de 9 Estados independentes, apelaram por uma independência política e económica e fundaram a SADCC (Souther African Development Coordinaction Conference), através de uma declaração intitulada “África Austral: Rumo à Libertação Económica” (p. 169).
A partir das ideias acima citadas pode-se concluir que a SADCC surge na década de 1980 quando os países da Linha da frente decidiram coordenar e harmonizar suas políticas económicas na região da África Austral com o objectivo de reduzir a dependência económica em relação a África do Sul do Apartheid.